Muito se tem falado do amor e da sua busca. Poemas em que se manifesta a saudade pela ausência da pessoa que, em certo momento da vida, preencheu a «alma» de cada um de nós.
Marcados pela natural aspiração a uma relação propiciadora de felicidade, de cariz individualista e até, perdos-se algum egoísmo, ficam por abordar as realidades sociais que têm caracterizado as relações inter-pessoais neste final de século XX e inícios do séc. XXI.
Não se alude aos divórcios, cada vez mais facilitados legalmente e na realidade social em que, mesmo contra a lei, as separações são acompanhadas pelo desinteresse pela subsistência dos filhos, esses frutos concebidos em momentos de grande exaltação da paixão.
O que está aqui em referência é a violência doméstica, praticada perante os olhares incrédulos e amedrontados de filhos ainda crianças.
Desentendimentos conjugais não podem nem devem conduzir a actos em que, sem qualquer atenção ou respeito pela autonomia e dignidade do outro cônjuge, se verificam actos de crueldade e, no limite, o seu assassinato.
Segundo a imprensa, só casos de morte ocorridos este ano elevam-se a 43 mulheres...
Associam-se ao fenómeno problemas de droga e de alcool...
Participações de situações de agressões ultrapassam as 23 000 feitas na PSP e na GNR, normalmente por iniciativa de participação das vítimas. Muitas queixas ficam por apresentar por receios de piorar a situação, agravamento da violência, falta de alternativas, desde logo a obtenção de habitação alternativa.
E os números seriam bem mais assustadores se a iniciativa partisse de qualquer pessoa que tivesse conhecimento das ocorrências. É que, sendo este um crime público não depende sequer da participação da vítima.
Muito bem a criação deste dia, mas a mensagem de alerta não passa. E seria desejável que as causas do fenómeno fossem sabiamente analisadas e houvesse vontade política de as resolver, pois sempre representa um custo para o Estado. Como custo é, de resto, o suportarmos todos as indemnizações concedidas às vítimas e que deveriam pressupor a prévia condenação do autor do crime.
Mas qualquer pessoa sabe da morosidade da justiça - a principal critica que lhe é apontada -, pelo que estou de acordo com o que se tem vindo a praticar, incluindo o alojamento da vítima em local não conhecido.
Pois, mas sempre se dirá que é uma vida adiada, sem relacionamento imediato e próximo com os filhos, sem raízes, sem amigos com quem possam compartilhar a dificuldade do momento da vida.
Esta violência, sendo sinal objectivo da ausência de afecto, bem poderia ser substituída pela separação de facto ou de direito, e não como repetidamente se refere, com falsos pedidos de desculpas, de que rais ocorrências se não voltarão a verificar, de repetidas promessas de amor, enfim um sem número de situações que apenas conduzem à perduração desta calamidade pública.
Que seja cantado o hino do amor... mas penalizados sem hesitação estes anónimos criminosos. É que o crime gera a insegurança de toda a comunidade e esta tem de saber reagir exemplarmente.